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Missão Paris-Saclay

Missão da Unicamp visita cluster de inovação Paris-Saclay, na França

Com apoio do Consulado da França, equipe da Unicamp conhece hub de pesquisa científica, desenvolvimento e inovação. Experiência tem similaridades com o território do HIDS.

14 instituições de ensino e pesquisa – incluindo duas das principais universidades francesas, a Universidade Paris-Saclay e o Institut Polytechnique de Paris – 155 mil pesquisadores e técnicos em pesquisa e desenvolvimento, 65 mil estudantes, parcerias com empresas como a Air Liquide, Siemens, GE Health Care, Intel, IBM e Nokia, uma área com fazendas e florestas protegidas e até um sítio arqueológico estão em Paris-Saclay, maior cluster de pesquisa e inovação da Europa e um dos maiores do mundo. Foi para conhecer os modelos de criação, planejamento e desenvolvimento deste ambiente de inovação na França que, entre os dias 22 e 24 de junho, uma missão composta por pesquisadores e gestores da Unicamp visitou o campus de Paris-Saclay.

A viagem para Paris-Saclay contou com o apoio do Consulado da França, em São Paulo. “Nossa missão é justamente facilitar relações entre instituições de ensino superior e de pesquisa do Brasil, especialmente do estado de São Paulo, com as da França”, afirmou Nadege Mezie, Adida para a ciência e a tecnologia do Serviço de Cooperação e Ação Cultural do Consultado.

Da equipe do HIDS, participaram da missão, Mariano Laplane, coordenador geral do HIDS na Unicamp, Gabriela Celani, coordenadora da componente do projeto físico-espacial, Wesley Silva, coordenador da componente do Patrimônio e a coordenadora da componente de comunicação, Patricia Mariuzzo. O Pró-Reitor de Pesquisa, João Marcos Travassos Romano, a chefe de gabinete adjunta, Adriana Nunes Ferreira, o assessor da Diretoria Executiva de Relações Internacionais (DERI), Alfredo Cesar Barbosa de Melo, o diretor-executivo associado a Inova Unicamp, Renato Lopes, o diretor do Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, Eduardo Gurgel, e a arquiteta e urbanista, atualmente cursando o doutorado em saneamento e ambiente no programa de pós-graduação em engenharia civil da FECFAU, Beatriz Martins Arruda, completaram a missão.

Um dos temas discutidos foram cooperações acadêmicas e científicas entre o EPAPS e a Unicamp. “A Universidade de Paris-Saclay é fruto da fusão da antiga Universidade de Paris XI (ou Paris Sul) com Grandes Escolas de muito prestígio e história na França, tais como a Escola Normal Superior de Cacham, a Supelec, a Escola Central, entre outras. Com a união dessas diversas instituições, com as quais a Unicamp já tinha histórico de colaborações, as possibilidades de parceria se multiplicam, na medida em que a nova Universidade de Paris-Saclay tem hoje destaque em todas as áreas do conhecimento, tanto em massa crítica como na qualidade de sua pesquisa”, afirmou o Pró-reitor de Pesquisa, João Romano.

Segundo Nadege, da parte do Consulado da França também há grande expectativa da criação de cátedras, especialmente entre a Unicamp e a Universidade Paris-Saclay. “É uma universidade muito jovem, que nasceu há menos de 10 anos e já ocupa o 13º lugar no Ranking de Xangai (Academic Ranking of World Universities) e está em primeiro lugar em Matemática”, lembrou a Adida. “Esperamos que, a partir dessa missão, haja incremento da mobilidade de estudantes e de colaborações cientificas”, complementou. Ela espera trazer uma delegação de Paris-Saclay para a Unicamp para discutir temas como desenvolvimento sustentável e operação urbana. “E, evidentemente, incentivar a troca de experiências e de boas práticas no campo da inovação, considerando que a Unicamp se destaca nessa área, como uma das maiores depositantes de patentes do país”, disse.

Iniciado em 2010, Paris-Saclay se destaca por ser um projeto de interesse nacional que, além de significativo investimento do governo federal e das parcerias com universidades, contou com apoio de gestores municipais e de associações da sociedade civil. De acordo com a professora da Faculdade de Arquitetura da Unicamp, Gabriela Celani, o interesse pelo projeto surgiu por conta de similaridades com a área de planejamento do Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS), incluindo a presença de um laboratório de luz sincrotron, forte concentração de instituições de ensino e pesquisa públicas e privadas, atividades agrícolas e um patrimônio histórico e cultural. “Desde o início do projeto houve forte preocupação com soluções para drenagem da água da chuva, utilização de madeira nas construções, uso misto e oferta de habitação de interesse social”, destacou Celani, que coordena a componente físico-espacial do HIDS. Segundo ela, do ponto de vista urbanístico, algumas dessas soluções poderiam ser adotadas no HIDS. Paris-Saclay conta ainda com um robusto projeto de comunicação com a sociedade que inclui farta documentação sobre o projeto, publicações periódicas e com uma produtora de TV.

Paris-Saclay começa a ser idealizada ainda na primeira década dos anos 2000 (na gestão do presidente Nicolas Sarcosy), a partir de investimentos em inovação em Saclay, comuna nos arredores de Paris com uma das maiores concentrações de infraestrutura de pesquisa na Europa. Aproximadamente € 5 bilhões foram investidos para transformar o planalto de Saclay em um “super campus”, fundindo várias instituições de ciência e pesquisa.

As construções tiveram início em 2013. Antes isso, em 2010 foi criada a Zona de Proteção Natural Agrícola e Florestal do Platô de Saclay e em 2018 foi publicada uma carta definindo regras para a ocupação do território. “O principal objetivo do projeto “Estabelecimento de Desenvolvimento Público Paris-Saclay” (EPAS) é impulsionar e coordenar o desenvolvimento do centro científico e tecnológico do planalto de Saclay, bem como sua influência econômica internacional”, explica Jérémy Hervé, chefe de inovação e desenvolvimento econômico. Ainda segundo ele, a fase de implantação do cluster contou com um processo participativo realizado por meio de entrevistas e seminários envolvendo as administrações estaduais, departamentais e regionais; câmaras consulares; dirigentes de organizações de pesquisa e ensino superior; representantes das áreas agrícolas e de associações ambientais.

Master plan – O plano de ocupação do território de Paris-Saclay é orientado por cinco eixos estratégicos: desenvolvimento econômico local; mobilidade; desenvolvimento sustentável; coesão social e governança eficiente e compartilhada. “Ao longo dos anos, acredito que consolidamos um modelo de governança fortemente baseado na divisão de responsabilidades e uma dinâmica de inovação que envolve setores de atividades estratégicos como energia, inteligência artificial e saúde”, pontuou Hervé. “Para os próximos anos, queremos ampliar o potencial de atração de empresas e de geração de empregos e estabelecer um ambiente de vida agradável para que as pessoas possam estudar, trabalhar e morar aqui”, disse.

Uma das motivações que resultaram na escolha da região de Saclay foi descentralizar as atividades de pesquisa, inovação e tecnologia, considerando que a cidade de Paris está saturada em termos de habitação e transportes. Nesse sentido, um dos desafios é facilitar os deslocamentos cotidianos, o que inclui nada menos do que uma nova linha de metrô. Com 35 quilômetros de extensão, ela conectará o planalto de Saclay à Paris e ao aeroporto de Orly. A primeira fase deve ser concluída em 2026.  O campus também dispõe de pontos de recarga para carros elétricos, ciclovias e trilhas de caminhada.

Sustentabilidade – Todo o desenvolvimento urbano de Paris-Saclay é feito em uma área limitada, porque um dos eixos do projeto e a preservação das áreas de plantação agrícola e de quatro hectares de florestas no entorno do campus, que estão sob a proteção da Universidade Paris-Saclay. “Queremos criar um ambiente de inovação sustentável, por meio de um projeto urbano compacto baseado em três regras, sempre que possível, evitar construir para não impermeabilizar o terreno; reduzir o impacto no ambiente e desenvolver ações de compensação, contou Julie Tissot, diretora da área de desenvolvimento sustentável do hub.

Assim, segundo ela, quando um prédio é demolido, há estratégias específicas para reciclar os resíduos, as técnicas de construção são selecionadas visando o menor impacto no meio ambiente, utilizando, por exemplo, 50% de madeira na estrutura das novas construções. Lagos artificiais, jardins de chuva e telhados verdes são algumas das estratégias adotadas para drenar água da chuva, evitando alagamentos nas áreas mais baixas. Parte da energia elétrica utilizada nos sistemas de aquecimento e de ar condicionado é fornecida por energia geotérmica, aproveitando as altas temperaturas de reservatórios subterrâneos naturais de água. Há ainda um projeto de monitoramento da biodiversidade,  que conta com o apoio de um comitê científico criado especificamente para esse fim. Conforme relatou Hervé, há um experimento na área de economia circular em um dos prédios do campus no qual a urina dos homens é coletada para ser usada como fertilizante em uma fazenda local.

Modelo de negócio – O modelo de negócio de Paris-Saclay é baseado na venda de terra para neutralizar o custo do projeto em um prazo de 30 anos, após o investimento inicial do governo federal. Segundo Hervé, as terras comercializadas dependem de um consulta pública e há um sistema rígido para aceitar novos projetos no território que contempla desde a etapa de construção até a tecnologia e atividades comerciais que serão desenvolvidas. “Na França, não há projeto similar a Paris-Saclay em termos poupar recursos naturais e terra”, destacou o dirigente. Em termos de governança, foi instituído um conselho com representantes das universidades e das empresas locais. “Foi um desafio fazer as universidades trabalharem juntas, mas prevaleceu o interesse delas de se engajarem em uma iniciativa de projeção internacional”, explicou. Um dos desafios do projeto é a atração de empresas, start ups, recursos humanos e estudantes. “Tentamos mostrar o alto nível de qualidade de vida que temos aqui e a sustentabilidade é uma questão-chave nesse sentido. Desde a fase de planejamento buscamos aprender com os erros do passado, antecipando problemas relacionados ao meio ambiente, mobilidade e adensamento. A partir dessas diretrizes, Paris-Saclay passou uma espécie de laboratório em tamanho real para o desenvolvimento sustentável, um campo de experimentação de inovações sociais, tecnológicas e políticas e de articulações entre diferentes atores”,  finalizou o dirigente.

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