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Entre as dezenas de apresentações culturais que aconteceram na Zona Azul da COP30, uma chamou atenção. Neste show cinco cantoras, com estilos diferentes e vindas de Bangladesh, do Zimbábue, Inglaterra, de Piracicaba e do Pará, se revezaram no palco. No intervalo outro tipo de “música” ocupava o ambiente: uma gravação com o som da água corrente entremeado por gritos agudos e delicados. “O que se ouve é na verdade é o coachar de uma pequena rã, a Hylodes sasimai”, explicou Luis Felipe Toledo, professor do Instituto de Biologia da Unicamp (IB) e coordenador da Fonoteca Neotropical Jacques Vielliard, que abriga uma das maiores coleções de sons de animais do mundo, e que cedeu esta gravação para compor uma série de shows que aconteceram na Conferência e em alguns espaços na cidade de Belém. As apresentações são parte do projeto “Flow: histórias da água através da água”.

Idealizado pela ONG inglesa In Place of War, o Flow é fruto de uma colaboração artística internacional que conta com seis artistas, todas mulheres, de quatro países: a paulista Bebé Salvego, as paraenses Jaloo e Keila e ainda Shingai (Zimbabue), Sohini Alam (Bangladesh) e a norte-americana de ascendência indiana Madame Gandhi. “A ideia que orienta o projeto é usar a música para fazer um alerta sobre a problemática da água no contexto da mudança climática e seus impactos, especialmente na vida das mulheres”, contou Nikita Lerena, produtora cultural da In Place of War, que cria projetos envolvendo arte, música e criatividade em zonas de conflito e lugares afetados pelas desigualdades sociais.

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As cantoras que participam do Flow: Jaloo, Sohini Alam, Bebé, Shingai, Nadine Shah e Keila (ao centro). Crédito da foto: Felipe Pagani @fe_pagani

Mais recentemente, a organização tem atuado também em áreas impactadas pelas crises climáticas. “Optamos por estabelecer esse diálogo com a mulheres por acreditar que, especialmente no Sul Global, elas são mais vulneráveis ​​aos impactos das mudanças climáticas devido às desigualdades sociais, econômicas e culturais”, pontuou Lerena. Como principais cuidadoras, as mulheres enfrentam encargos maiores quando desastres climáticos deslocam famílias, danificam casas ou limitam o acesso a alimentos e água. “Buscando lançar luz à esta questão, as artistas foram convidadas a compor músicas inspiradas nos sons de animais e da natureza selecionados na Fonoteca do IB”, complementou Lerena.

Com estilos bastante diferentes, indo do tecnobrega ao jazz, na proposta do Flow elas cantaram juntas buscando refletir o espírito da Conferência do Clima, quando países e pessoas com culturas diferentes se juntam para resolver um problema. Flow é usar o som e algumas histórias da água para contar outra história, a do impacto das mudanças climáticas, especialmente na vida de mulheres indígenas. “É um projeto muito importante porque junta importante funde conhecimento científico e arte com objetivo de mobilizar as emoções das pessoas e incentivá-las a se engajarem no movimento pelo fim da exploração e uso dos combustíveis fosseis e para manter o aumento da temperatura do planeta em 1,5 graus”, destacou Ruth Daniel, CEO e diretora criativa da In Place of War.

O projeto Flow e a parceria com a Unicamp não se encerram na COP30. Um álbum com as músicas compostas será lançado em 2026. Cenas dos shows que aconteceram em Belém vão compor um documentário sobre mulheres de vários lugares do mundo que tiveram suas histórias transpassadas pelos efeitos das mudanças climáticas. As composições serão a trilha sonora deste filme que será lançado na COP31, na Turquia.

Toledo, segue atuando como consultor científico do projeto, fez a curadoria das gravações. “Selecionamos arquivos com sons de animais ameaçados e extintos, especialmente aqueles que tem relação com a água, como é o caso da Hylodes, espécie endêmica da região de Campinas e que está ameaçada de extinção”, explicou o professor da Unicamp. “Incêndios em florestas tropicais são uma consequência das mudanças climáticas, afetando até mesmo os animais que vivem perto da água”, finaliza.

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